terça-feira, 11 de julho de 2017

Reflexos

Encontrei um vazio tão cheio de ruído. Um ruído ensurdecedor, que me faz esquecer quem sou eu. Ele dá-me a mão, rodeia a minha cintura e sussurra-me sombras e manchas de dor. Vislumbro as sombras, que vão crescendo. Crescem tão alto como a árvore mais longa que encontro no caminho. Suspiro. Não sei o que está a acontecer. Vultos negros - mais negros do que o céu mais escuro que vejo - vestem-se de mim. As minhas mãos movem-se conforme a sua vontade. Os meus pés contorcem-se na terra. Gritos calados de dor! Uma dor lacinante que me perfura o peito.

Olho para mim. Observo-me. Vejo um corpo deformado por lágrimas e raiva. Sinto nojo de mim. 
Escamas rasgam a minha pele. Movo-me sem sair do lugar, tão fortes que são as mãos que me prendem ao chão.
- Quem sou eu? - ouço - Quem sou eu?
Uma vozinha suave - tão suave que lembra a voz de uma mãe - fala comigo. Olho ao meu redor. O mesmo vazio tão cheio de ruído e de dor. 
- Quem sou eu? 
Sinto uma batida forte no peito ao ouvir essas palavras. Olho para ele e vejo. Vejo-o mover-se. Outra batida! E outra! Levo as minhas mãos ao peito e uma onda de calor invade cada sombra que habita no meu Ser. 

Olho-me novamente. Quero perceber o que me está a acontecer. Vislumbro cada canto do meu corpo. Vejo a mesma escuridão. Mas, apesar disso, consigo ver muito mais! Percebo que cada dor que me deforma o corpo leva sabedoria para a minha alma. Percebo que as escamas que caem do meu rosto contam histórias de coragem. 

Levo as pontas dos meus dedos a percorrerem a carapaça que me esconde. Abraço-me. Vejo beleza em mim. Beleza neste corpo que conta histórias; beleza neste rosto que desvenda o que estou a sentir. Abraço-me. Não quero esconder mais quem eu sou. Não quero voltar a sentir vergonha de ser quem eu sou!


Liliana