terça-feira, 22 de maio de 2018

Despertar

Acordo de um sono profundo. Um sono que me levou por sonhos que me esconderam os sentidos e que me levaram por grutas e cavernas solitárias. Caminhei sem saber por onde. Caí na lama que não vi. Senti ecos de palavras que não ouvi. Um silêncio absurdo tilintava dentro da minha cabeça; dentro do meu corpo; dentro de mim. Gritei! Gritos surdos de dor!

Lagarta num casulo que nunca se tornará borboleta.
Flor de lótus que nunca subirá à superfície das águas pantanosas.

Cicatrizes vestem-me o corpo que tenta renascer das cinzas ao sentir a voz do Sol. Visto-me com elas e solto os cabelos que me caem pelas costas. Traços de cor aparecem sob os meus olhos. Cores disformes que se vão revelando como as flores na chegada da Primavera. Um som. Um som distante de uma gaivota a voar sobre as ondas do mar azul. O cheiro da água salgada e da terra molhada que traz esta chuva que começa a cair.

Saio do meu corpo e observo-me de fora. Sorrio por sentir beleza pelas cicatrizes que me vestem e pelas sombras que viajam no meu rosto. Ouço novamente o Sol a chamar-me. Volto para o meu corpo e olho, intrigada, para ele. O que quererá de mim? Tanta leveza na sua voz.

Sacudo as últimas cinzas que me pesavam nos ombros e me escondiam. Olho para os meus pés e caminho. Para onde ir? Não sei. Não importa. Sigo a sua voz nos meus ouvidos. Sigo as flores que desabrocham nas árvores. Sigo as andorinhas e as borboletas que voam no céu.

Sou Essa e Outras

Já não sou quem eu fui. Sou essa e outras. Carrego no meu ventre memórias de cada uma das mulheres que estiveram aqui antes de mim. Carrego memórias de meninas, mulheres, que fui noutras vidas. Agradeço-lhes por cada marca que deixaram no meu corpo, que me levam por labirintos de medos, perdão e aceitação.
Os meus cabelos crescem. Cada fio conta uma história do que já vivi e fá-lo que nem um pintor em frente a uma tela, preparado para que a sua mão o conduza por entre castelos e contos-de-fada! Ele pinta com todas as cores que vemos, quando o dia amanhece, no olhar de quem vê o Sol; ele pinta com todas as cores que vemos, em cada dia que o nosso coração renasce e volta a acreditar!

Já não sou quem eu fui. Sou essa e outras!

(Imagem via Pinterest. Desconheço a autoria!)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Noites Frias

Escrevo para expressar o que sente o meu coração, quando o meu olhar e as minhas palavras voam com o vento e ninguém os consegue ver. Escrevo para que a minha memória mostre a aprendizagem que a minha alma tanto teima em fazer. Observo a noite e o céu, onde mingua uma lua invisível ao olhar, porém luminosa para quem a quer ver.
Que sentimentos são estes que rasgam as minhas certezas com um simples sopro? Que sentir tão profundo. Quantas grutas é preciso descer, pergunto. Escuto e não ouço nada. Nem um som! Não me movo! Fico a observar o que me faz bloquear com medo. Observo-me ao longe, com o olhar a tentar ver no escuro. Um filme de outras eras passa à minha frente, em câmara lenta. Cada lembrança, cada cheiro, cada sentir. Um filme a preto e branco, numa língua que desconheço. Contudo, lembro-me de tudo o que está a ser dito! Revivo-o vezes sem conta, até estar pronta para o libertar.
Voa, sombra minha! Voa comigo! Vamos juntas em cada passo, para que a aprendizagem seja completa e o sentir  profundo, sim, porém puro e verdadeiro!