Para quem não sabe, apesar de ainda não ser mãe, faço parte de um grupo de mulheres que se chama Mães d'Água e que tenta, com muito amor, alterar a realidade de parto que existe em Portugal. Contribuo, por vezes, com alguns textos para o site das Mães d'Água. O texto que se segue é um deles. Desfrutem!
"Na
Antiguidade, a dança era considerada uma forma de ligação entre o Homem e o
Divino. Nos Templos, as Mulheres faziam rituais, entregavam oferendas e
dançavam. Esses rituais – realizados apenas por mulheres e sacerdotisas – eram
de fertilidade. Na época, a Mulher era considerada sagrada! Era respeitada e
abençoada, devido à sua capacidade de gerar vida, tal como a Mãe Terra.
Para
ser mais específica, os Deuses e as Deusas eram representações da própria
Natureza: sol, lua, mar, … Consequentemente, cada fenómeno natural estava
associado a um Deus. Por exemplo, quando chovia, tal acontecia porque o Deus da
chuva se estava a manifestar; se o mar estivesse agitado, provavelmente o Deus
do mar estava zangado; etc.. Todavia, o Ser Humano necessitava de uma energia
superior, que fosse a criadora de toda a vida: da vida humana e da dos Deuses.
Após a
observação de que apenas as mulheres davam à luz, concluiu-se que todo o
Universo teria sido gerado a partir de um grande útero – a Mãe Divina. A partir
daí, a ligação entre os rituais de fertilidade que incluíam a dança e a Mãe
Terra torna-se mais evidente. Acreditava-se que a mulher, quando grávida,
estava possuída pelo divino, o que lhe possibilitava gerar vida.
Se
formos analisar as primeiras sociedades matriarcais, os rituais eram oferecidos
à Deusa Mãe; na Antiga Grécia (de salientar que a dança fazia parte do sistema
de educação obrigatório, dada a sua importância na ligação com os Deuses) à
Afrodite e no Antigo Egito à Deusa Ísis. Em muitos desses rituais, as
sacerdotisas dançavam criando ondulações com os seus ventres desnudos. Essa era
a forma de garantir prosperidade e fertilidade para a terra e para as mulheres.
Essa
ligação íntima da mulher ao arquétipo da grande Deusa Mãe está diretamente
relacionada com a
fertilidade, com a concepção, a gestação, o parto
e, igualmente, com os cuidados maternais. Muitos dos movimentos que
agora fazem parte da Dança do Ventre eram passados de mulher para mulher, com o
objetivo de as auxiliar durante o parto, inclusive no momento de
expulsão. Aliás, hoje em dia, alguns desses movimentos são ensinados nas
aulas de preparação para o parto, pelo menos em Portugal.
Outro
facto curioso é que existem outras culturas com danças características – por
exemplo, o Hula, Dança típica no Havai – que incluem movimentos de anca que
também fazem parte da Dança Oriental. E, ao analisarmos essas culturas,
percebe-se que elas também tinham cultos de fertilidade oferecidos às suas
Deusas, dos quais a dança também fazia parte, tal como esses movimentos de
anca. Coincidência ou mais uma prova de que os considerados movimentos
base da “atual” Dança Oriental são comuns às mulheres de diversas culturas que,
devido à sua experiência e conhecimento dos seus corpos, sabiam o que ajudava a
aliviar as dores do trabalho de parto e o próprio momento da expulsão?
”A
dança do ventre relembra-nos a nossa capacidade de gerar vida; é o nosso
resgate do sagrado feminino. Cabe-nos desvendar a nossa essência
e levá-la aos ventres de todas as Mulheres."
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